sábado, 4 de junho de 2011

Carta de minha mãe


"Meu Amor:

Sei perfeitamente bem o que estáis sentindo de um tempo para cá. De repente, você mesmo se pergunta: será mesmo, será que alguém nesse mundo pode sentir, com exatidão, a dor que estou sentindo, o vazio que estou vivendo, a solidão que teima em me fazer companhia? Para você, pode parecer exclusividade sua, tal sentimento que vive hoje, mas não é! Acredite! Isso tudo é sentimento natural de quem consegue colocar o amor ao seu semelhante acima de tudo, é típico de quem ama alguém mais do que a si próprio. E isso não é saudável! "

"Resolvi te escrever porque falar já não adianta muito, ou melhor, não adianta nada. Cada dia que passa, você está se afundando num oceano de incerteza, de desamor (e o desamor de que estou falando, é o que você perde completamente a noção dos seus valores, a sua real identidade, e se coloca na posição de impotente, sem verdadeiramente ser), de tristeza profunda, que a qualquer momento te direciona para um sentimento deprimente. Infelizmente, só o que posso fazer é te alertar, é “te chamar na grande” (como diziam pra mim, na época que eu era jovem), é tentar te abrir os olhos, te fazer enxergar que não existe nessa vida ninguém, ninguém mesmo, que mereça fazer você passar pelo que você está se obrigando a passar, se oprimindo, se auto-destruindo, se desmaterializando, se apagando, e, porque não dizer, se matando?"

"Chega de sofrer, chega de viver uma vidinha medíocre! Levanta daí, sai dessa posição de inferioridade, de eterno apaixonado por quem sequer sabe o que de fato é amar! Meu Amor, se eu pudesse, se eu tivesse o poder de fazer as coisas mudarem num simples estalar de dedos, eu juro, juro por tudo que é mais sagrado nessa vida, que abriria sua cabeça e apagava da tua memória pessoas que passaram por sua vida e não valeram a pena! Eu não suporto ver você vivendo do jeito está conduzindo sua vida! Não agüento mais te ver na situação que você resolveu ficar!
"

"Ary, as vezes Deus coloca pessoas na nossa vida pra gente aprender, com o convívio, a selecionar melhor aquelas que nos fazem bem, e expulsar aquelas que nos fazem mal. É como se através das pessoas a gente pudesse aprender sempre mais a arte de viver (ou seria conviver?). A vida da gente não é só da gente, é também de Deus, que nos dá como uma tarefa escolar: a gente vive, usa, aprende, e depois ele mesmo, quando acha que é o momento certo, vem e leva de volta. Nossa vida é emprestada, e por isso mesmo não temos o direito de fazer mal uso dela, pelo contrário, temos obrigação de viver bem, e proporcionar uma vida feliz aqueles que verdadeiramente nos amam e que sofrem com agente, quando nos vêem sofrer. Eu desejo por demais que você faça um exame de consciência, e veja bem direitinho se vale a pena o que está fazendo com você mesmo. O castigo que está se dando" (...)

"Eu estou te falando essas coisas porque me preocupo com você. Eu te amo meu filho, e não acho justo um carinha tão legal, tão verdadeiro, tão sincero, tão lindo, por dentro e por fora, se entregar ao mundo escuro que você está se entregando! Sai dessa, Ary! Você já fez tudo que podia para tentar reverter essa história e resgatar o que acha que viveu um dia, achando que poderiam viver de novo, mas não deu! E sabe porque não? Porque foi tudo uma ilusão, você viveu um amor onde só você se dava, só você verdadeiramente amava, só você era real, Ary" (...)

"Você é muito melhor do que ela. Você é real, não é uma mentira! Você é tudo de bom, pode ser muito feliz, mas para isso é preciso que queira ser. Não basta eu querer que você seja, eu desejar que você seja. Meu amor, acredite, eu rezo todas as noites e peço a Deus para tirar da sua cabeça e do seu coração esse sentimento que já não é mais amor, é uma doença, porque está te fazendo mal! E está contagiando as pessoas que estão ao teu redor e que verdadeiramente te amam! Você é jovem, lindo (como já disse, e repito!), você é tudo de bom! Abre teu coração Ary, e se dê ao direito de ser feliz, de conhecer pessoas novas, interessantes, alegres, e de bem com a vida. É isso o que faz bem pra gente: convivência sadia! Eu espero que esse nosso monólogo possa te sacolejar, te fazer abrir os olhos e ver a vida de forma mais alegre e feliz! Espero poder ajudar você com minhas palavras sem pensar. Na verdade, isso aqui é mais uma forma de desabafo, é como se eu quisesse falar pra você, mas eu tô falando sozinha, tu sabe mais ou menos o que eu tô falando, né? Não tô aqui tentando consertar sua vida (porque senão eu teria o dom de consertar a minha, que já é troncha por natureza!), mas gostaria de te ver bem, me sinto na obrigação de te dar a mão e tentar te ajudar a levantar. Mas querer se levantar já é uma escolha sua, que não cabe a mim decidir. Qualquer coisa eu estou aqui, é só chamar!"

"Te amo muito, beijo grande".

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