Com a cabeça apoiada entre os braços, ele esperava, pacientemente, durante todos os dias. Ao menos, o que pareciam ser dias. Desde que chegara aquele lugar, era impossível ter uma noção de quanto tempo se passara. Mesmo assim, não tinha pressa.
Tudo era branco, do chão até onde a vista pudesse alcançar. Poderia ter mudado isso várias vezes se quisesse, mas não. Era melhor assim.
Então, do nada, um homem de roupa azul materializou-se a sua frente.
-Olá! -Saudou o visitante. O homem sentado no chão, soltando um longo suspiro, disse:
-Olá. Sim, eu sei quem é você, Miguel.
Sem esboçar nenhuma expressão, Miguel sentou-se a sua frente.
-Precisa parar. Tem ideia do que está fazendo? Está negando a si mesmo uma nova chance...
-Me desculpe, mas não quero e nem vou esquecê-la.
-Pare de complicar as coisas. Não seria o fim. Se o amor de vocês dois for tão forte quanto é por sua parte, poderão ficar juntos novamente. Essa é a ordem natural.
Mas ele nada ouvia. continuou em silêncio, fitando o vazio. Miguel resolveu tentar de outro jeito:
-Aqui está muito solitário. Não gostaria de ter uma casa, um lago para se refrescar, ou a visão de um pôr-do-sol no final de cada dia? Sabe que posso arranjar isso.
Fingiu não ouvir. Sabia que o objetivo disso era distraí-lo para, sem perceber, começar a esquecer. Preferia o nada, pois assim tinha tempo de sobra para pensar.
-Só precisa pedir.
Pela primeira vez, seus olhos se cruzaram.
-Qualquer coisa?
-Não! -Enfatizou, com a voz cansada, Miguel. -Quase qualquer coisa. Sabe que não posso lhe dar informações sobre aqueles que estão na mesma condição que você, ou que já voltaram.
-Então vou pedir de uma forma diferente: deixe-me vê-la uma última vez.
-Muito bem -concordou Miguel, levantando-se. -Posso fazer, mas com uma condição: você me dará todas as memórias relacionadas a ela depois disso. De acordo?
Internamente, o homem passara de um rápido momento de excitação para frustração. Poder vê-la novamente era como realizar um sonho. Mas valeria a pena pagar tão alto preço?
-Não. -Decidiu. -Não vale a pena. Obrigado.
-Francamente! -Exaltou-se Miguel. Tentanto manter a calma, continuou: -Não percebe que estou fazendo isso por você mesmo? Como pode manter uma existência tão sofrida? Essas memórias que carrega estão te sufocando, te prendendo nesse espaço que deveria ser apenas uma passagem para uma nova vida. Precisa aceitar a renovação!
-Obrigado, de coração, pela preocupação. Mas esse é apenas um ponto de vista.
Miguel passou a mão sobre o rosto, contrariado.
-Está certo. Sabe que não poderá sair enquanto não esquecer de tudo. Voltarei daqui há algum tempo.
Miguel desmaterializou-se. O homem fechou os olhos. Visualizou aquela figura feminina de vestido branco, cabelos curtos, óculos e sorriso contagiante, quase como se pudesse tocá-la. Não se arrependera de sua decisão, e nunca se arrependeria. Pois, para ele, perder essa lembrança era como morrer para sempre.
(escrito originalmente no Domingo do dia 19 de Setembro de 2010, as 5:10 da tarde)
Tudo era branco, do chão até onde a vista pudesse alcançar. Poderia ter mudado isso várias vezes se quisesse, mas não. Era melhor assim.
Então, do nada, um homem de roupa azul materializou-se a sua frente.
-Olá! -Saudou o visitante. O homem sentado no chão, soltando um longo suspiro, disse:
-Olá. Sim, eu sei quem é você, Miguel.
Sem esboçar nenhuma expressão, Miguel sentou-se a sua frente.
-Precisa parar. Tem ideia do que está fazendo? Está negando a si mesmo uma nova chance...
-Me desculpe, mas não quero e nem vou esquecê-la.
-Pare de complicar as coisas. Não seria o fim. Se o amor de vocês dois for tão forte quanto é por sua parte, poderão ficar juntos novamente. Essa é a ordem natural.
Mas ele nada ouvia. continuou em silêncio, fitando o vazio. Miguel resolveu tentar de outro jeito:
-Aqui está muito solitário. Não gostaria de ter uma casa, um lago para se refrescar, ou a visão de um pôr-do-sol no final de cada dia? Sabe que posso arranjar isso.
Fingiu não ouvir. Sabia que o objetivo disso era distraí-lo para, sem perceber, começar a esquecer. Preferia o nada, pois assim tinha tempo de sobra para pensar.
-Só precisa pedir.
Pela primeira vez, seus olhos se cruzaram.
-Qualquer coisa?
-Não! -Enfatizou, com a voz cansada, Miguel. -Quase qualquer coisa. Sabe que não posso lhe dar informações sobre aqueles que estão na mesma condição que você, ou que já voltaram.
-Então vou pedir de uma forma diferente: deixe-me vê-la uma última vez.
-Muito bem -concordou Miguel, levantando-se. -Posso fazer, mas com uma condição: você me dará todas as memórias relacionadas a ela depois disso. De acordo?
Internamente, o homem passara de um rápido momento de excitação para frustração. Poder vê-la novamente era como realizar um sonho. Mas valeria a pena pagar tão alto preço?
-Não. -Decidiu. -Não vale a pena. Obrigado.
-Francamente! -Exaltou-se Miguel. Tentanto manter a calma, continuou: -Não percebe que estou fazendo isso por você mesmo? Como pode manter uma existência tão sofrida? Essas memórias que carrega estão te sufocando, te prendendo nesse espaço que deveria ser apenas uma passagem para uma nova vida. Precisa aceitar a renovação!
-Obrigado, de coração, pela preocupação. Mas esse é apenas um ponto de vista.
Miguel passou a mão sobre o rosto, contrariado.
-Está certo. Sabe que não poderá sair enquanto não esquecer de tudo. Voltarei daqui há algum tempo.
Miguel desmaterializou-se. O homem fechou os olhos. Visualizou aquela figura feminina de vestido branco, cabelos curtos, óculos e sorriso contagiante, quase como se pudesse tocá-la. Não se arrependera de sua decisão, e nunca se arrependeria. Pois, para ele, perder essa lembrança era como morrer para sempre.
(escrito originalmente no Domingo do dia 19 de Setembro de 2010, as 5:10 da tarde)
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