E assim, três dias se passaram.
Era início de um novo dia quando Silphia voltou para a fazenda. Estava exausta. Passara os últimos três dias matando dois Antonios e brigando com um aprendiz para conseguir sua terceira meia furada. A noite estava sempre em alerta, procurando o caminho de volta ("Puxa, esse campo era maior do que eu imaginei...") e estava agora cortando os arbustos que ficavam a sua frente com uma faca que seu pai lhe dera para prestar o exame. "Preciso me apressar", pensou. "Só tenho até uma hora da manhã para me apresentar ao fiscal do exame, ou então não passarei no teste!".
Faltavam vinte segundos para uma da manhã quando Silphia chegou nos portões da "fazendinha", exausta e caindo de joelhos. Sentiu alguém aproximar-se. Ainda de olhos fechados, agora deitada de barriga para cima, ela disse:
–Puff... aqui estão minhas meias. Lutei muito para consegui-las, mas aqui estão... -Já recuperada, ela levantou-se, limpou a poeira do corpo e, erguendo a cabeça, com os olhos fechados e com um sorriso triunfante, disse:
–Como o senhor pode ver, eu cheguei bem na hora, nem um minuto a mais, nem um minuto a menos. Isso mostra que eu sou mesmo pontual! -Ela sorriso com deboche para o fiscal. -E pelo jeito, fui a única a chegar aqui a tempo, ou seja, somente eu passei no teste, não é mesmo?
O homem de túnica cinza a sua frente coçou a cabeça.
–Hum... Beeemm... -Ele saiu da frente de Silphia, e então ela pôde ver: deitado nos degraus da casa que servia como sede da base dos espadachins, lá estava um sonolento Aron Wormior, deitado de cabeça para baixo nas escadarias, um bule de chá junto a uma taça de prata ao seu lado.
–Ele teve que esperar você por três dias -Continuou o homem. -Na verdade, ele está dormindo há três dias também. Pensei que estivesse morto. Na verdade, ele estava deitado no alto das escadarias, mas eu toquei nele e ele caiu de cabeça descendo o corpo pelas escadas. Está bem, fora o fato de ter batido a cabeça muito forte e ter perdido um dente.
Silphia olhava espantada para o jovem garoto de cabelos verdes e túnica laranja deitado nas escadarias baixas da casa. Isso de alguma forma deve ter tido alguma reação em Aron, que pesadamente abriu os olhos deslumbrando o amanhecer junto ao fiscal e a garota de Cabelos rosa que conhecera três dias a trás, Silphia Belnades (Claro, tudo isso de cabeça pra baixo...). Olhou longamente para os dois e soltou um bocejo.
–Uahhh... Bom dia.
–BOM DIA NA CASA DO CARAL... –Esbravejou a garota, apontando para Aron nervosa e assustando o garoto e o fiscal. Ela rapidamente aproximou-se dele e o pegou pela gola da camisa, balançando sua cabeça freneticamente.
–ISSO NÃO É POSSIVEL, É HUMANAMENTE IMPOSSÍVEL QUE VOCÊ TENHA PASSADO NESSE EXAME EM APENAS UM DIA, UM DIA! GRRRR! VOCÊ ROUBOU, NÃO FOI? OU ACHOU UM ATALHO? POR QUE VOCÊ AINDA TÁ CALADO? VAMOS, FALE ALGUMA COISA!
–Ahhh, para com isso Silph, você tá amarrotando minha camisa.
Ela da um soco na cara de Aron.
-EU NÃO PEDI SUA OPINIÃO!
Enquanto olhava aquela bela jovem esfolar aquele pobre rapaz, Jacob estava com os pensamentos longe, embora fossem sobre o jovem a sua frente.
"Verdade, é humanamente impossível que um jovem como esse tenha passado em um teste tão difícil em apenas algumas horas. Mesmo um grande espadachim teria passado um dia inteiro para concluí-lo. Esse garoto deve ter um potencial muito grande mesmo Ou então, poderia ser que ele...?"
Alguns Minutos depois, o fiscal encaminhou Aron e Silphia até o salão anterior. Como ainda era cedo, estava fechado para aventureiros. O velho homem chegou até o platô onde ficara anteriormente, e abaixo dele, revelou um tipo de compartimento secreto. Retirou então duas grandes caixas e um grande pergaminho de papel. Em seguida virou-se para Aron e Silphia.
–Me dêem suas meias.
Os dois entregam as meias furadas que conseguiram com os Antonios. O homem retirou uma carteira feita de pele de Lunático do bolso, coloco-as e em seguida guardou novamente no bolso. Ele abriu o pergaminho desenrolando um grande rolo de papel que chegou a bater do outro lado da parede, deixando os dois jovens incrédulos.
–Essa é a lista de exame dos jovens que se formaram esse ano na Gilda dos espadachins. As dos anos anteriores encontram-se devidamente guardadas. Enfim -Ele retirou uma pena de um pássaro misterioso que nenhum dos dois aventureiros reconhecia de qual era. -Assinem seus nomes no final da lista.
Os dois jovens rapidamente correram para o outro lado da sala e anotaram seus nomes. Ainda perceberam que havia bastante espaço para outros.
-Muito bem! -Disse o homem, enrolando novamente o pergaminho. Ele o guardou no compartimento e entregou aos jovens duas caixas. -Aqui estão suas primeiras espadas para auxiliá-los nessa nova fase de suas vidas. E lembrem-se: sempre as usem em prol da justiça, nunca para o mal. Sempre Respeitem os códigos, se não os outros espadachins e seus níveis superiores virão atrás de vocês.
–Que códigos?
–Apenas esses, Aron.
–Ahh.... eu não ouvi, pode repetir?
–...Claro.
"Acho que essa pequena cerimônia de graduação vai demorar um pouco" Pensou Silphia, impaciente.
–xxx-
Três Horas depois, Aron corajosamente abriu os Portões que davam para fora da sede dos espadachins (Os mesmos pelo qual ele fora empurrado para dentro por Bulk, e os quais agora era empurrado para fora por Silphia) dando de cara com vários aventureiros que estavam na porta. Eles olhavam primeiro para ele e depois para a bainha de sua espada, a direita de sua cintura, prova máxima que agora ele era um espadachim. Aron olhava para todos com um sorriso alegre (Embora sem alguns dentes...) mas Silphia o puxou para fora da casa.
Estavam andando há algum tempo pelas ruas desertas da cidade de Izlude. Silphia ia toda irritada a frente, enquanto Aron, com os braços cruzados atrás da cabeça, olhava para o sol que começava a aparecer no horizonte, seus raios dourados despontando no céu. Em seguida, como um pensamento repentino, ele parou.
Silphia, já alguns metros, olhou para ele e gritou.
–O que foi?
Aron retirou sua espada da bainha. Era uma arma feita de um material rústico, porém resistente. Começou a balançá-la de um lado para o outro, como se lutando com um inimigo imaginário. Em seguida olhou novamente para a arma, maravilhado.
–Essa espada é demais! Muito boa mesmo! Eu gostei muito de você! Eu A-M-E-I Você!
–Ah...Aron....
–Já sei, eu vou te dar um nome. Um... que tal Felizberta? Isso, Felizberta!
–Aff...Ô Aron...
–Tudo bom, Felizberta? Agora você faz parte da família Wormior! Nos vamos ser bons companheiros junt...
–POR#@RA ARON! -Berrou Silphia, dando mais um soco na cara do infeliz. -Para de ser (censurado)!
–Agh... Essa doeu...
–Que negócio mais idiota! Se vai botar um nome nessa espada, pelo menos coloca um nome decente!
–Qual é o nome da sua espada, Silph?
Ela fez uma cara de esperta.
–Um nome simples, porém eficaz. O nome da minha espada é JULIUS ROBERT ALEXANDER VAN BERTH GOGH MAXIMILLIAN PRIMEIRO!
-...
–O que acha?
–Ah... super...
E assim os dois saíram da cidade para treinar. Aron teve a grande idéia de pegar o caminho à direita para Payon.
–Aron, tem certeza que esse caminho é seguro?
–É claro que sim!
Não demorou muito e os dois logo estavam perdidos no deserto de Morroc.
–Aron, eu vou MATAR VOCÊ! -Disse a garota, irritada.
–Er... Pois saiba que o meu objetivo era mesmo vir treinar no deserto, viu?
–Olha aqui, Aron: o objetivo da gente era treinar para estar melhor preparados para quando pegássemos nossas missões. Mas se a gente ficar se perdendo assim, como espera que nos tornemos grandes espadachins?
–Ah... CARAMBA, É MESMO, AGORA EU SOU UM ESPADACHIM! HAHAHA!!!
–...
–KKKKK... eu tinha até me esquecido...
–Bah! Tchau Mesmo!
–Espera ai, pra onde você vai?
Aron ficou esperou uma resposta de Silphia que, ao longe, disse:
–A qualquer lugar onde não precise nunca mais olhar pra essa sua cara feia. Adeus!
–xxx-
Agora já passava do meio dia. Silphia estava caída de bruços na areia quente de Morroc. Com um grande esforço, levantou-se, desviando seu olhar para todos os cantos, para o nada.
–Droga, agora estou mais perdida ainda. -Disse, levantando-se e andando trôpega, sem nem ao menos prestar atenção no caminho que seguia. -Aquele Maldito Aron! Sabia que não devia ter seguido ele até aqui. Ai que raiva! Se eu tivesse trazido mais água e comid...
De repente, ela sente seu pé direito pisar em algo macio. Primeiro ouviu o grito e então pulou de susto, olhando horrorizada para aqueles dois metros de patas afiadas e uma bocarra com um olhar coberto de raiva. Ela havia pisado em um Lobo, e dos grandes!
–Er...me desculpa seu lobo! –Silphia foi recuando devagar, totalmente tomada pelo medo. -Me desculpa por ter pisado em seu rabinho, ha ha... não, isso não é engraçado, mas... tô indo embora, adeus!
Ela virou-se para fugir, mas deu de cara com mais lobos, saindo agora de todos os cantos.
Agora sim Silphia percebera a grande besteira que tinha feito: ela pisara na calda da líder de uma matilha!
Exausta, a garota deixou-se cair no chão. Os lobos chegavam cada vez mas perto, esfomeados e separados agora apenas por alguns metros.
-Es-espera ae, vamo conversar... SOCORROOOOOO! -Em pânico, lembrou-se que não havia nada a sua volta, e agora um dos lobos corria em sua direção, pronto para soltar. Silphia já ia abrir a boca para gritar novamente quando o lobo pulou em sua direção. Ela fechou os olhos, esperando o pior. O lobo já estava na metade de seu pulo quando um coco, do nada, acertou-lhe em cheio na cabeça, jogando-o com tudo no chão.
Silphia abriu os olhos surpresa. Os lobos, incrédulos, olhavam para algum ponto. Silphia então percebeu que, em uma rocha um pouco alta, mas não muito longe dali, estava Aron Wormior, a joelhado e jogando um coco para cima e para baixo com a mão direita. Ele sorriu para a garota e piscou um olho.
–Não precisa gritar de novo por socorro! -Disse, dando uma pirueta espetacular até o chão, atingindo mais um lobo certeiramente na cabeça com um coco. Ele aproximou-se de Silphia, enquanto os lobos agora formavam um círculo ao redor deles.
–Aqui tem vários! –Desesperou-se a jovem. -Nós não podemos vencer todos!
Aron, sem nada dizer, desembainhou sua espada.
–Mas nós temos que tentar. -Disse Aron, sério. Silphia jamais imaginara vê-lo daquele jeito. -Eu não vou desistir sem luta!
Os lobos ficaram espreitando os dois, esperando apenas o momento certo para atacar. Silphia, de joelhos, puxou o garoto para o chão.
–Ficou maluco? Eu sei que você não sabe contar, mas já disse, são vários! Como pensa...
–Eu não sei! -Interrompeu Aron. -Sabe, por toda a vida, eu sempre quis chamar a atenção dos outros, na verdade eu sempre quis... que os outros me amassem de verdade. Mas, acima de tudo, você pode ter certeza de uma coisa: eu seria capaz de desistir de minha vida e de todos os meus sonhos, se fosse para salvar outra vida. -E em seguida, ele olhou para Silphia com um olhar bondoso: -Principalmente se essa vida fosse de uma grande amiga minha.
Silphia ficou impressionada com o discurso, e também corada. Ela soltou o rapaz, deixando-o se levantar novamente. Aron olhou para todos os lobos, mas não havia medo em seu rosto. Ao invés disso, ele gritou:
–PODEM VIR, TODOS VOCÊS, DE UMA SÓ VEZ! PODEM ATACAR AO MESMO TEMPO PORQUE NÃO VAI ADIANTAR NADA, EU VOU VENCER, PORQUE EU AGORA... TENHO UM MOTIVO PARA LUTAR!
Como se correspondessem ao desafio do jovem espadachim, todos os lobos juntos pularam em sua direção. Ele preparou sua espada, a expressão obstinada. Silphia fechou os olhos, desesperada. "Seu idiota! Agora você piorou o problema mais ainda! Só podia ser você mesmo..."
Mas quando tudo parecia perdido, uma parede de fogo surgiu e protegeu os dois, jogando os lobos para trás com toda a força. Aron e Silphia ficaram surpresos, e a parede de fogo desapareceu em uma cortina de poeira. Por trás desta apareceu um vulto.
Era um homem alto, de túnica branca, chapéu rosa e luvas. Seu rosto era coberto por uma demoníaca máscara feliz. Ele bateu as mãos para tirar poeira das luvas, e em seguida sorriu:
–Estava passando por aqui e pensei que precisariam de minha ajuda. Muito prazer gatinha, meu nome é Bulk Commoner. Opa, como vai, Aron?